Everaldo Ferreira – CE

História de vida

José Everaldo Ferreira da Silva (1987) nasceu em Terra Nova, Pernambuco. Foi para Juazeiro do Norte, Ceará com 5 anos de idade, quando seus pais se separaram. Na infância, trabalhou com a mãe em olarias, fazendo tijolos e telhas. Quando tinha por volta dos 10 anos, entrou para o projeto Meninos do Horto, realizado no bairro do Horto em Juazeiro pelo Centro de Cultura Popular (CCP) Mestre Noza. O projeto tinha o objetivo de dar cursos de entalhe para crianças e jovens do bairro do Horto, como uma forma de continuar a tradição de entalhe e de estimular as crianças a saírem das ruas. 

Everaldo é devoto de Padre Cícero desde criança. Quando ia para o Mestre Noza participar das oficinas de entalhe, sempre passava em frente à sua estátua no alto do monte do Horto. Em todas as passagens, pedia a bênção do padre para que ele o ajudasse a aprender.

Participou das oficinas por dois anos e, logo após a conclusão, começou a trabalhar no Centro de Cultura Popular Mestre Noza como artesão. Seus colegas de trabalho, bem mais velhos, ficavam admirados e diziam: “esse menino já faz arte!”. Durante sua atuação no Centro de Cultura Popular Mestre Noza, estimulou jovens aprendizes, participou da diretoria e teve papel fundamental na articulação dos artesãos e realizações de projetos. Um exemplo marcante é a participação, em 2018, dos artesãos do CCP Mestre Noza na exposição Raiz de Ai Weiwei, realizada na cidade de São Paulo.

Em 2020, deixou de fazer parte da associação que faz a gestão do CCP Mestre Noza e montou um ponto de venda independente de venda com Din e outros artesãos. O local se chama Casa de Três Marias Cariri. 

Obra e processo criativo

Quando ainda atuava no CCP Mestre Noza, Everaldo tornou-se exímio especialista na produção de imagens de Padre Cícero. Suas peças viajaram o mundo e foram presenteadas a diversas personalidades, celebridades e políticos. Por muitos anos, a maior parte do seu trabalho era dedicada a esculpir imagens do santo. Atualmente, sente-se estimulado a criar outras peças. Sua produção, como um todo, está inserida na imaginária escultórica permeada pela religiosidade e o turismo de Juazeiro do Norte. Por isso, faz imagens de santos, ex-votos e outras esculturas que retratam cenas cotidianas.

As madeiras mais utilizadas são a umburana de espinho e cedro, que, de acordo com Everaldo, duram de 200 a 300 anos e não pega cupim. As madeiras são coletadas principalmente em matas de Pernambuco, de árvores que morreram e secaram em pé. Esse processo de corte e coleta é bastante exaustivo. 

As peças podem ser pintadas ou acabadas no natural da madeira, recebendo um tratamento de cera de carnaúba.

Produz de acordo com os pedidos das encomendas. Quando não tem encomenda, faz o que vem de inspiração. Everaldo conta que a própria madeira mostra qual peça que ela pode dar, pela largura e dimensões. Ela mesmo identifica o que quer ser. É bonito de ouvir Everaldo descrevendo como as madeiras conversam com ele. Quando abandona uma peça pela metade para dar conta de uma encomenda, conta que a escultura inacabada fala com ele, pedindo para não ser esquecida e terminada logo.

Trabalha em uma oficina que está montando no quintal de sua casa. Utiliza majoritariamente ferramentas manuais, como buril, formão, goiva e faquinha de tamanhos diversos. As ferramentas elétricas são a motosserra, para partir os grandes troncos, e a lixadeira para acabamento de peças maiores.

A relevância cultural e econômica de Padre Cícero para Juazeiro do Norte – CE

A devoção a Padre Cícero tem início em março de 1889, quando celebrava uma missa e, no momento da comunhão, a fiel Maria de Araújo recebeu a hóstia que se tornou vermelha como sangue quando pôs na boca. O milagre foi atribuído ao padre, que motivou cada vez mais peregrinações e romarias à cidade de Juazeiro do Norte. Em sua homenagem, uma escultura com 25 metros foi erguida no alto do morro do Horto e é o ponto mais visitado da cidade pelos romeiros.

Além da relevância religiosa, Padre Cícero teve um papel político importante. Sua atuação começou nas negociações para a separação do povoado de Juazeiro do município do Crato. Mediador do conhecido “pacto de coronéis”, Padre Cícero tornou-se prefeito da cidade de Juazeiro do Norte de 1911 a 1926. Realizou diversas obras de melhorias na cidade, como a pavimentação e alargamento das ruas, criação de escolas e o abastecimento de água.

Conta-se que Padre Cícero era grande conhecedor do artesanato e que teria estimulado sua produção em Juazeiro do Norte, principalmente direcionando a produção de artesãos para atender as demandas dos fiéis que chegavam nas romarias: chapéus de palha de carnaúba para proteger do sol quente, candeeiros de flandres para as velas (começando a realizar, inclusive, procissões à noite) e a produção de ex-votos em madeira, trabalho artístico e artesanal diretamente relacionado à fundação do Centro de Cultura Popular Mestre Noza.

Mestre Noza começou a trabalhar no entalhe produzindo cabos de armas como revólver e espingardas, e outros produtos, mas com a industrialização e a lei de regulação de produção de armas pelas forças armadas, viu sua produção diminuir. Mestre Noza começou então a direcionar sua produção para a arte religiosa, produzindo ex-votos, imagens de santos, oratórios e presépios para atender os romeiros. Mestre Noza produzia imagens de Padre Cícero, assim como outros artesãos da região. No entanto, de acordo com a oralidade, espalhou-se um boato de que Padre Cícero teria consentido com a produção de sua imagem por Mmestre Noza, o que não teria acontecido com nenhum outro artista.

O Centro de Cultura Popular Mestre Noza foi fundado em 1983, ano de falecimento de Mestre Noza. Trata-se de uma iniciativa de apoio ao artesão proposta pelo então Instituto Nacional do Folclore, atualmente Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular/Iphan,  e é administrado pela Associação dos Artesãos de Juazeiro do Norte. Possui um importante papel para a manutenção, divulgação e comercialização da produção de mais de 120 artesãos de diferentes tipologias.

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