Família Antônio de Dedé – AL

História da família

Antônio Alves dos Santos, conhecido como Mestre Antônio de Dedé, nasceu em 1953 em Arapiraca, pois na época Lagoa da Canoa ainda não havia se emancipado. Recebeu a alcunha de Dedé do pai, Dedé Lourenço, que trabalhava nas lavouras de fumo, era louceiro e carpinteiro. Seus pais tiveram 28 filhos, mas apenas 5 “vingaram”, como diz a expressão popular. Antônio ia com o pai para a lavoura trabalhar desde os 8 anos de idade e não frequentou a escola.

Ao contar sua própria história, sempre descreve o trabalho do pai como fundamental para ter descoberto seu próprio dom artístico. Descreve emocionado que o pai fazia louças de barro e peças de carpintaria, como carros de boi, cadeiras, mesas, etc. Diz que o pai era artista como ele, mas de um jeito diferente.

Antônio sempre teve aptidão para criar coisas, começou modelando pequenas peças de barro, que sempre colocava no forno para queimar junto à produção do pai. Com restos de madeira e lata fazia seus brinquedos e carrinhos, que eram cobiçados por outras crianças que se tornaram seus primeiros clientes.

Com cerca de 20 anos, casou-se com Maria Aparecida dos Santos, com quem teve 9 filhos. Fazia esculturas nas horas em que não trabalhava na lavoura para ter uma renda extra. Suas obras circulavam localmente, pois eram encomendadas por casas de santos que buscavam imagens para os cultos religiosos afro-brasileiros.

Deixava as peças cuidadosamente expostas em casa quando ia trabalhar na roça, com o objetivo de serem vistas e, quem sabe, descobertas por clientes. Ao narrar sua história, considera que foi “descoberto” duas vezes. Na primeira, um galerista apareceu em sua casa e comprou algumas peças. Fez um contrato de exclusividade de venda que consistia em passar, todo mês, na casa de Antônio para pegar as peças feitas, pagar e entregar madeira para nova produção. Esse acordo seguiu por alguns meses, mas o galerista desapareceu, retornando mais de um ano depois pedindo para que Antônio seguisse com o esquema de produção. Entendendo que o acordo havia se rompido, Antônio não vendeu mais para ele pois já tinha outros clientes.

Em 2003 sua mulher faleceu deixando-o com os nove filhos, a mais nova com 2 anos de idade. Antônio se sentiu muito sozinho e enfrentava dificuldades financeiras para cuidar das crianças. Nessa época foi visitado por Maria Amélia Vieira, proprietária da Galeria Karandash, que se interessou por seu trabalho. Esse encontro, em que Antônio foi “descoberto” pela segunda vez, se deve ao ouvido curioso e atencioso de seu filho mais novo. O menino, que estava brincando em frente à escola quando Maria Amélia visitava um outro artista da cidade, se apresentou a ela e disse que o pai também fazia esculturas. Foi através de Maria Amélia que o trabalho de Antônio de Dedé passou a circular e ter maior projeção e foi também, por incentivo dela, que ele começou a explorar outras formas criativas. 

As longas jornadas de trabalho pesado e a vida dura na roça, plantando principalmente fumo, debilitaram o corpo de Antônio de Dedé, que teve reumatismo e precisou operar uma perna. Em 2010 já não trabalhava mais na roça porque não conseguia, dedicava-se apenas ao trabalho artístico. Devido às limitações físicas, precisava da ajuda dos filhos para carregar as peças de madeira mais pesadas e pausava a produção por alguns dias, para aliviar as dores no corpo.  Faleceu precocemente em junho de 2017 aos 63 anos de idade. Dois anos antes de falecer, Antônio de Dedé recebeu o título de Patrimônio Vivo do estado de Alagoas em 2015.

Antônio de Dedé repassou seus conhecimentos para seus 9 filhos, que mantêm a produção artística do pai e transmitem os conhecimentos para novas gerações. Atualmente, dois netos de Antônio de Dedé já dedicam a criar as próprias peças. Todos os filhos sentem um carinho muito grande pelo pai, que sempre fez tudo o que pode para criá-los da melhor forma. Os filhos combinam três atividades econômicas diferentes para garantir o sustento: trabalham na roça, em empresas da região e produzem as peças de arte. Infelizmente, ainda não conseguem viver apenas da produção artística.

Em 2017, um Memorial em homenagem a Antônio de Dedé foi inaugurado no centro de Lagoa da Canoa, município onde ele viveu a vida toda. Com curadoria de Paulo Gomes, exibe ferramentas que ele utilizava, livros, fotografias e obras, além de apresentar trabalhos de alguns de seus filhos.

Artistas da família Antônio de Dedé

Antônio Alves dos Santos (1953 – 2017)

Adailton Rodrigues dos Santos (1978)

Jailton Rodrigues dos Santos (1982)

Maria Cícera Alves Santos (1984)

Antônio José Rodrigues dos Santos (1987)

Ismael Rodrigues Santos (1991)

Ednês Rodrigues dos Santos (1994)

Maurício Rodrigues dos Santos (1995)

José Clebson Rodrigues Santos (1998)

Marines Rodrigues dos Santos (2001)

Luciene Maria dos Santos (1985)

José Deyvisson Rodrigues dos Santos (2003)

Jerfeson Alves Farias (2005)

Obra e processo criativo

Antônio de Dedé fazia esculturas em madeira de tamanhos variados, de pequenas a grandes dimensões, totens de 2 metros ou mais. Sua obra se caracteriza pela expressividade dos personagens, com traços faciais, como olhos, bocas e dentes com aspecto expressivo e às vezes cartunesco. O mestre se inspirava nas coisas que via e em imagens religiosas. Usava o termo “tradução” para se referir ao processo criativo – dizia que traduzia seus “personagens” ou “pecinhas”. Privilegia figuras humanas, mas também esculpia animais e seres fantásticos. Chama a atenção como as obras tendem a ser compactas: em um tronco, ou coluna, cabe toda a iconografia do santo ou elementos do personagem. Um exemplo marcante é São Jorge, que em um cilindro apresenta o santo com seu cavalo e o dragão. 

Esculpia diversos tipos de madeira disponíveis, mas como era uma matéria-prima difícil de conseguir, preferia que fosse trazida por clientes. Gostava de trabalhava principalmente com cedro e jaqueira. Utilizava ferramentas compradas em lojas da cidade e trabalhava em uma oficina que montou no quintal de sua casa. O processo de trabalho demorava muitos dias ou meses para a conclusão de uma única peça.

Cada filho segue o caminho aberto pelo pai, tendo seu trabalho como referência. Alguns possuem traços mais próximos aos do mestre, mas todos expressam sua individualidade criativa por próprio estímulo de Antônio de Dedé, que desejava que cada um tivesse seu lugar no mundo.

Com a inventividade criativa dos filhos de Dedé, as obras foram ganhando outros formatos. Antônio José de Dedé, por exemplo, criou esculturas montáveis, com peças que se encaixam e passam a ter outros formatos que extrapolam o modelo colunar. 

Já as filhas mantêm o formato original, trabalhando principalmente com totens e ex-votos que possuem um entalhe mais econômico, mas muito ricos graficamente por causa da pintura colorida e detalhada.

OUTROS MESTRES E ARTESÃOS