Família Cândido – CE

História da família

Maria de Lurdes Cândido Monteiro nasceu no dia 11 de fevereiro de 1939 em Pernambuco. É a terceira dos doze filhos de Elias Candido de Lira e Maria Candido de Lira. Quando ela tinha seis meses de idade, a família mudou-se para a comunidade Brejo Seco em Juazeiro do Norte. A família vivia do trabalho na roça, mudando-se de tempos em tempos para trabalhar nas propriedades em diferentes atividades: plantavam mandioca, colhiam e faziam todos os processos de produção da farinha; colhiam algodão; brocavam mato; cortavam lenha para engenho; entre outras atividades. Teve seu primeiro contato com o barro ainda na infância, participando da construção de casas de taipa, realizada de forma coletiva, em mutirão.

Casou-se com João Américo Monteiro, com quem teve 11 filhos. João vivia do trabalho na roça até começar a trabalhar para a prefeitura. Maria de Lurdes, por sua vez, trançava chapéus de palha de carnaúba, uma das principais atividades femininas de Juazeiro do Norte e que foi bastante estimulada por Padre Cícero quando ele era prefeito do município.

Maria de Lurdes contava que, no final dos anos 1960, quando ia fazer compras, seus filhos ficavam encantados com brinquedos em miniatura feitos de barro que eram vendidos na feira. Sem dinheiro para comprar e cansada de ser “aperreada” pelos pequenos, decidiu começar a fazer peças pequenas com o barro retirado de um barreiro que existia no sítio onde moravam. Com o barro molinho, fez panelinhas, potinhos e bichos para suas crianças brincarem. Vendo as peças, sua irmã Ciça (Cícera Fonseca da Silva) – que é ceramista e reconhecida artista popular – estimulou Maria de Lurdes a continuar, auxiliando-a nas queimas das primeiras peças. Essas primeiras produções, em miniatura, foram chamadas por ela de “miudezas”. Suas filhas Maria Candido e Maria do Socorro se juntaram a ela na produção das pecinhas e, para fazer uma renda extra, começaram a vender em feiras no município. 

Foi em 1975 que começou a produzir as primeiras placas, ou temas, que se tornariam sua marca artística e levariam seu trabalho ainda mais longe. Nesse ano, Maria de Lourdes recebeu uma visita de uma ilustre pernambucana, que sugeriu a criação de quadros em alto relevo para serem pendurados na parede.

Ensinou sua técnica para os filhos e netos, mas a atividade de produção das peças sempre foi majoritariamente feminina. O marido João sempre apoiou muito Maria de Lurdes, buscando e preparando o barro para a modelagem. Posteriormente, o trabalho passou a ser realizado por máquinas e, com o adoecimento e falecimento de João, seus filhos ficaram responsáveis pela compra e beneficiamento do barro.

Maria de Lurdes Cândido e suas filhas Maria Candido e Maria do Socorro ficaram conhecidas como as “Três Marias de Juazeiro”. Em 2010, Maria Cândido faleceu, vítima de um acidente. Essa perda gerou um impacto muito grande na família, pois Maria Candido era conhecida como a melhor das artesãs, produzia as peças mais bonitas, e era bastante ativa e participativa em eventos que promoviam o trabalho da família. Após esse falecimento, outra filha de Maria de Lurdes, a Maria das Dores Monteiro, passou a produzir as peças.

Maria de Lurdes Cândido foi reconhecida como “Mestra da Cultura” pelo estado em 2004, quando recebeu o título de Tesouro Vivo da Cultura Tradicional Popular do Ceará. Faleceu em março de 2021 em decorrência de um câncer de ovário.

A produção compartilhada e o apoio mútuo sempre foram uma prática da família, principalmente quando recebem grandes encomendas. Atualmente, 5 filhos seguem na produção das peças, bem como uma nora e uma neta.

Uma característica marcante das peças que produzem é o fato de serem assinadas, principalmente usando as iniciais do nome, formando um código de identificação das artistas.

Por mais que a família se dedique e seja reconhecida pela produção dos temas, a autoria individual é bastante respeitada. Quando um membro cria uma cena, ou tema, este passa a ser respeitado como criação individual e não é reproduzido pelos outros. Quando Socorro recebe encomendas de temas criados por Maria Candido, já falecida, assina “M.C.M. por S.C.M.” como uma forma de respeito e para manter o nome da irmã vivo. Alguns temas criados por Maria Candido são: “Lambe-lambe”, “Namoro no jardim”, “Casal na rede”, “Vida de luta e morte de Padre Cícero”. Por outro lado, existe o entendimento de que alguns temas são comuns e podem ser executados por todos, como os reisados, festas populares e banda cabaçal, por exemplo. 

Artistas da família Cândido

Maria de Lourdes Cândido Monteiro – M.L.C (1939 – 2021) 

Maria Cândido Monteiro – M.C.M (1961 – 2010)

Cicera Monteiro (1960) 

Maria das Dores Monteiro – D.M – “Dora” (1968)

Maria do Socorro Cândido Monteiro – M.S.C – “Corrinha” (1970) 

Maria José Monteiro (1972)

Elias Candido Monteiro (1981)

Aucilene Almeida (1990)

Carol Monteiro C.M (2001)

Obra e processo criativo

O trabalho mais conhecido da família são as placas de cerâmica com figuras afixadas em alto relevo para serem penduradas na parede. Nessa configuração, a placa funciona como um fundo, um cenário. Em 1985, Stênio Diniz, um renomado xilógrafo e cordelista, visitou a família e sugeriu a placa fosse chamada de tema, pois cada uma conta uma história. A família adotou o termo, mas não deixou de usar a palavra placa.

Essa forma de produzir chama bastante a atenção dos críticos de arte e pesquisadores, pois a disposição das figuras contra o fundo pintado produz uma “visão de pássaro” – o ângulo alto ou plongeé, como se o observador visse as cenas de cima e não frontalmente. Essa mudança quase sutil do ângulo produz uma sensação de miniaturização das cenas – uma “visão de Deus” ou de observador privilegiado daquilo que acontece.

As temáticas são diversas, representando principalmente cenas da cultura nordestina, como banda cabaçal, cenas de casamento, fotógrafo lambe-lambe, reisados, cavaleiros, mesas de bar, casais conversando, rendeiras, seres fantásticos e até repertórios inspirados em cenas da televisão. Além dos temas, também fazem figuras “em pé”, também posicionadas sobre uma placa que serve de base. 

Maria de Lurdes criava as peças em um ateliê que chamava de “Sala dos Santos”, pois é um espaço em que está localizado o altar da família, elemento muito popular em casas nordestinas. A família guarda várias peças produzidas no espaço, inclusive uma que representa a árvore da família Cândido com fotos 3×4, exibindo Maria de Lurdes, João e seus filhos. Também há as peças inacabadas deixadas por Maria Cândido Monteiro, além de seu arquivo pessoal.

Primeiro, cria-se uma placa com a argila batendo com as mãos, apoiando o barro em uma superfície recoberta para não grudar. Enquanto a tela “enxuga” um pouco, ou seja, perde a umidade, as figuras são modeladas. As figuras são fixadas na placa ainda úmidas para que haja uma maior aderência. Também utilizam um arame que passa pelo meio da figura, da cabeça até o tronco, para dar estrutura e fixar melhor.

Depois de secar, as placas são queimadas por cerca de 12 horas em fogão a lenha. Após a queima, são pintadas com tinta látex branca, misturada a corantes para produzir diversas cores.

Assim como outros artesãos e núcleos produtivos de Juazeiro do Norte, a Família Cândido também integra o Centro de Cultura PopularMestre Noza, onde expõe e comercializa suas peças. Seus temas são a manifestação figurativa em cerâmica mais expressiva da cidade, que possui forte tradição no entalhe em madeira.

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