Rosalvo Santana – BA

História de vida

Rosalvo Maltez Santana (1964) é filho do oleiro Amiordes Santana, mais conhecido como Mestre Roxinho, e Maria das Dores Araújo. Nasceu e vive no município de Aratuípe – BA, mais especificamente no distrito de Maragogipinho, conhecido polo de produção cerâmica. Quando criança, não trabalhava e nem passava muito tempo na olaria devido à toxicidade do processo de produção das peças vidradas, que usavam chumbo. Mesmo assim, gostava de brincar com o barro, modelando figurinhas de animais e bonequinhos.

Por estímulo do pai, que não via futuro na produção artesanal, Rosalvo completou os estudos até o ensino médio e dedicou-se a fazer um técnico de contabilidade. Não teve dificuldades para achar emprego na área, mas logo percebeu que trabalhar como artista era sua paixão e vocação.

Quando tinha 18 anos, em uma viagem a Salvador, foi aconselhado a modelar imagens de santos devido a sua facilidade para o desenho. Sempre atento aos conselhos e opiniões sobre seu trabalho, criou uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Levou a peça para a tradicional Feira dos Caxixis, que acontece todos os anos no período da Semana Santa no município de Nazaré. A santa chamou muito a atenção do público e, com a manipulação dos curiosos, uma pontinha acabou se quebrando. Rosalvo julgava desanimado que, por isso, a peça não seria vendida, mas uma cliente levou a escultura pagando o dobro do preço pedido. A partir desse episódio, Rosalvo passou a produzir imagens sacras, cinco anos depois participou de uma exposição e foi premiado.

Em sua primeira participação em uma exposição de arte santeira, percebeu que as obras ali presentes tinham iconografias e formas de representar os santos muito parecidas e entendeu que precisava inovar para que seu trabalho se destacasse. No começo, fazia os santos mais eretos, quase duros, como se pousassem para uma foto. Ouvindo sugestões de clientes, começou a incorporar o movimento e desenvolveu o drapeado elaborado do panejamento, tão característico do seu trabalho.

O interesse pela arte sacra vem desde a infância, quando observava admirado as imagens na igreja e nas procissões. Perguntava para mãe como era possível fazer imagens tão bonitas e logo tentava reproduzi-las no barro. Rosalvo Santana é um dos poucos santeiros de Maragogipinho, onde predomina a produção de cerâmica tradicional utilitária ou decorativa. Por isso, se auto identifica mais como santeiro do que como oleiro, dedicando-se a criar uma representação original para as imagens de santos.

Obra e processo criativo

As obras de Rosalvo Santana se caracterizam pela complexidade de finíssimas dobras, redobras e pregueados dos mantos e vestes das imagens, produzindo um efeito de leveza exuberante. A maior inovação do trabalho de Rosalvo Santana é a combinação de elementos do barroco e do rococó para criar representações únicas dos santos. Para Rosalvo, o barroco é suntuoso e belo, foge à regra do erudito e abre espaço para a imaginação. Já o rococó é marcado por um exagero das formas. Como não pinta suas obras, Rosalvo usa do exagero para dar movimento às suas peças e destacá-las de outras produções. 

Como não se identificava com a produção de peças utilitárias, aprendeu poucas coisas com o pai por falta de interesse. Para criar suas peças tornou-se um artista autodidata, desenvolvendo suas técnicas por meio da tentativa e erro.

O barro usado em Maragogipinho é retirado de barreiros localizados a 10 km do distrito, em Aratuípe. Como é um barro que possui muita areia, inadequado para a produção de arte sacra, Rosalvo precisa fazer um beneficiamento bem apurado, que consiste na decantação do barro para separar suas partes constituintes, e na homogeneização. Para produzir suas peças, usa a parte conhecida como “goma da argila”.

Na modelagem, começa com uma estrutura cônica modelada a mão, com uma técnica que desenvolveu com o objetivo de deixar a peça ainda mais leve do que normalmente se obtém no torno. Os detalhes são adicionados a essa estrutura em etapas. As peças são sempre ocas, tanto por causa da queima, como por questões de logística. Para fazer os detalhes, utiliza ferramentas como espátulas, mas a que mais se destaca é o ferrão de arraia. Como na região há muitos pescadores e há muitas arraias, um dia teve a ideia de improvisar ferramentas com o ferrão devido à dificuldade de encontrar ferramentas para comprar. Cortou e lixou o ferrão, que é utilizado para fazer detalhes, como as dobras do panejamento, os cabelos e as unhas. O ferrão também é utilizado para polir. Depois de modelada, a peça seca a sombra e depois ao sol. Segue para o forno para uma queima lenta e controlada, com um método desenvolvido por Rosalvo.

A cerâmica de Maragogipinho – BA

Maragogipinho é um distrito do município de Aratuípe, a 70 km de Salvador. Localiza-se na região do Recôncavo Baiano, que corresponde a área que circunda a Baía de Todos os Santos. O distrito possui uma população aproximada de 3 mil pessoas.

Na margem do Rio Jaguaripe há várias olarias em uma área aterrada há muitos anos com areia da praia, cascalho e cinzas dos fornos, que dão a cor escura ao chão. Estima-se que existam 140 olarias (na margem do rio e nos fundos das casas, no interior do povoado), e em cada uma trabalham de 5 a 15 pessoas. Tradicionalmente, a produção da cerâmica é compartilhada por homens e mulheres. Uma peça é feita por, no mínimo, duas pessoas, pois são os homens que fazem a modelagem, enquanto as mulheres dão o acabamento e pintam.

A produção cerâmica é vendida na Feira dos Caxixis, que acontece no município próximo de Nazaré (das Farinhas), durante a Semana Santa. A história conta que a feira começou quando um oleiro chamado Patrício saiu de Maragogipinho pelo rio Jaguaripe levando a canoa cheia de peças de cerâmica para vender em Nazaré das Farinhas, aproveitando o movimento em função da celebração religiosa. O evento, que acontece há cerca de 300 anos, hoje é uma mistura de feira e festa e atrai mais de 8 mil pessoas. A palavra caxixi nomeia as miniaturas de louças, feitas à semelhança das louças utilitárias, mas geralmente sem os engobes com tauá e tabatinga que ornamentam as peças maiores. Contam que os caxixis são produzidos por aprendizes, mas há registros de mestres que também se dedicam a modelá-los.

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