João Borges – MA
História de vida
João de Oliveira Borges Leal (1970) nasceu em Teresina, Piauí, mas cresceu e vive em Timon, município do estado do Maranhão localizado na outra margem do rio Parnaíba que faz a divisa entre os dois estados.
Desde criança via seus primos trabalharem fazendo tijolos e telhas e, por isso, teve contato com o barro ainda muito jovem. Com a matéria-prima farta, que se acumulava aos montes no entorno das olarias, João inventava brincadeiras de modelar o barro com seus amigos.
Sempre foi apaixonado por arte, mas, a princípio, gostava mesmo de desenhar e pintar. Na adolescência, quando podia, ia para a biblioteca para folhear livros de pintura, pois amava ver e viajar nas cores e formas das pinturas. Ganhou uma paleta de tinta guache de um amigo com 14 anos e começou a pintar, passando também para a tinta a óleo.
Movido pela curiosidade, decidiu experimentar a argila novamente e fez um busto. Ficou surpreso consigo mesmo, com sua habilidade de criar com esse material. Levou o busto para o Centro de Artesanato Raimundo Nonato de Sousa, onde conheceu o artista plástico Nonato Oliveira, que o convidou para trabalhar em um ateliê. Nonato Oliveira organizou uma exposição dedicada ao trabalho de João Borges e uma de suas peças foi presenteada a um político importante de São Luís, aumentando a projeção de seu trabalho.
Começou a modelar peças criando personagens que remetiam à arte clássica, como anjos, que pintava com cores berrantes. Logo percebeu que esse não era seu caminho artístico e as características da própria argila começaram a atrair sua atenção. Para João, o aspecto visual da matéria, o que a argila proporciona, é o centro inegociável de seu trabalho e a marca de sua individualidade como artista.
João Borges participou de várias exposições, coletivas e individuais e suas peças são adquiridas principalmente por colecionadores. No entanto, infelizmente, seu trabalho ainda é pouco conhecido e circula de forma muito restrita no circuito de arte.
Obra e processo criativo
João Borges cria esculturas em cerâmica que se destacam pelo impressionante realismo. As expressões das faces, as dobras e as texturas dos tecidos das roupas são muito expressivas e possuem uma atmosfera poética. Curiosamente, João Borges não usa tintas, pois tem a intenção de evidenciar a cor e a textura do próprio barro. Ainda que representem pessoas muito reais, suas obras lembram constantemente ao observador de que matéria são feitas e é inevitável não lembrar das histórias e mitologias – até mesmo a origem bíblica – que contam que o homem foi feito do barro.
O humano é a principal inspiração de João Borges, principalmente as pequenas ações cotidianas: um casal de idosos deitados na cama, um homem esperando o ônibus, uma conversa na janela, uma mulher lendo…
Com esse olhar para as miudezas e momentos efêmeros, João Borges propõe, com suas obras, que o indivíduo se veja e veja o outro, que perceba a riqueza de um momento singelo que pode ser vivido e compartilhado por todos nós. João é um cronista poético do cotidiano e, mesmo tendo como inspiração cenas regionalistas, seu trabalho pode ser interpretado como universal.
O barro é adquirido na região, bastante conhecida pela produção oleira de telhas e tijolos. Às vezes desenha esboços da peça que criará, mas na maioria modela o barro diretamente. Seu trabalho é bastante minucioso, por isso uma peça leva muito tempo para ser feita.
Depois de queimar as peças, realiza um processo de envelhecimento com a intenção de dar a elas um aspecto de que foram trabalhadas pelo tempo. Gosta muito que a cerâmica tenha o aspecto envelhecido do barro, semelhante às telhas que escurecem pela ação da umidade e dos fungos nos telhados. Para isso, desenvolveu uma técnica de aplicação de picho que recolhe nas beiras de estradas recém construídas. Depois de proteger a peça com um produto específico, o picho derretido é aplicado com maestria, de forma que não fique preto nem brilhante em demasia.