Mestre Cunha – PE
História de vida
José Francisco da Cunha (1951) nasceu em um engenho de Ipojuca, mudou-se para Recife ainda jovem e foi para Jaboatão dos Guararapes, município localizado na região metropolitana de Recife, quando se casou. Seu pai era carpinteiro e machadeiro, fazia caixões de madeira para adubo, caçambas de carregar animal, carro de boi e casas. Quando Mestre Cunha era criança, fazia seus próprios brinquedos, utilizando miolo de bananeira para fazer tratores. Inevitavelmente, os brinquedos murchavam em pouco tempo e precisavam ser refeitos a cada 3 dias. Essa laboriosa repetição inspirou Mestre cunha a fazer carrinhos de madeira, sua primeira experiência com a produção artesanal.
Mestre Cunha teve várias profissões: começou como cortador de cana-de-açúcar com o pai e trabalhou na construção civil, foi cobrador de ônibus, feirante, camelô, vendedor de doces e vigia noturno. Em meados dos anos 1990, quando tinha quase 40 anos, ficou desempregado e começou a produzir canetas entalhadas em madeiras como esculturas, de forma bem rudimentar. Conta que produzia muitas, mas perdia quase todas no processo de perfuração, pois a madeira acabava se partindo com o calor do fogo. De dez peças que entalhava, apenas uma sobrevivia ao processo de perfuração. Com o tempo, passou a produzir brinquedos populares, uma tradição bastante presente em Recife e nos municípios próximos.
A partir dos anos 2000 começou a expor em feiras de artesanato promovidas pela prefeitura de Recife. Participou do projeto Brinquedos Populares do Recife como oficineiro (2002 – 2003), realizado pelo do Museu do Homem do Nordeste em parceria com o Programa Artesanato Solidário (Artesol). Esse projeto viabilizou o acesso a políticas públicas para mestres e aprendizes artesãos de brinquedos, realizou exposições e ofereceu oficinas de acabamento de produtos, melhorando a qualidade das peças. A participação do Artesanato Solidário, nessa época, foi fundamental para que os brinquedos passassem a ser produzidos e comercializados como esculturas, tornando-os objetos de decoração e levando os artesãos a acessarem novas possibilidades de mercado.
Obra e processo criativo
Mestre Cunha cria esculturas que possuem características fantásticas, misturando formas humanas, animais e de máquinas. Muitas possuem mecanismos funcionais, como dobradiças, lâmpadas e hélices. Algumas tem temáticas eróticas, representando mulheres com seios de fora e cenas de masturbação, por exemplo.
Os seres extraordinários, coloridos e mecânicos das obras dão forma a um imaginário lúdico e repleto de humor. Devido à essas características, algumas pessoas chegam a pensar que suas obras são brinquedos, confusão que deixa Mestre Cunha impaciente. Suas peças são objetos decorativos, e especialmente produzidas para colecionadores de arte.
A maior parte da inspiração vem de sonhos e criaturas imaginadas. Não desenha, as peças surgem da imaginação e no processo de criação vão se transformando. Também inventa muitas peças a partir da observação de objetos de seu entorno. Assim, a matéria-prima comunica o que se transformará pelas mãos do mestre: quando coleta uma madeira na rua, já imagina o que ela será.
Possui uma oficina, onde cria suas peças e acumula as diferentes matérias-primas que são coletadas na rua em suas andanças. A madeira reaproveitada é esculpida, recebe massa e é pintada com tinta à óleo. Também utiliza outros materiais de reaproveitamento para criar engrenagens, como dobradiças, partes elétricas, e outras engenhocas.
Cada peça é única e recebe um título, que é escrito na própria peça com tinta colorida. Para nomear as peças, Mestre Cunha consulta dicionários e a internet. Os títulos podem ser frases ou palavras inventadas, que surgem em sua cabeça: Macau, camelauro, teupai, parampalho.
Recentemente começou a aprender inglês de forma autodidata, utilizando a internet. Para exercitar o aprendizado, intitula as peças nesse idioma.