Tiago Amorim – PE

História de vida

Nasceu com o nome de Sebastião Wilson Ferreira de Amorim no dia 8 de janeiro de 1943, mas as comemorações do seu aniversário aconteciam no dia 20, dia de São Sebastião, a quem foi consagrado por sua mãe. Nasceu em Limoeiro, Pernambuco, e mudou-se para Recife com dois anos de idade.

Durante a infância e sua formação na escola, teve intenso contato com a arte em suas diversas formas. No Grupo Escolar Sigismundo Gonçalves organizava o Grêmio Literário e toda programação de cartazes e faixas para realização dos eventos escolares. No Colégio São Bento colaborava nas sessões de cinema e apresentações cênicas. Neste colégio, desenvolveu uma peça em modelagem que foi escolhida para uma exposição na Alemanha.

Entrou para o mosteiro beneditino com o objetivo de ser monge. Nesse período mudou seu nome para Tiago, que significa “o vencedor”, em seu batismo de fogo. No mosteiro, retomou as oficinas de artes manuais, como cerâmica, tapeçaria, pintura, encadernação, atraindo mestres populares como José Rodrigues e Manoel Inácio, discípulos de mestre Vitalino.

Com vontade de aprender ainda mais sobre a cerâmica, viajou até Caruaru para aprender com os artesãos. Na época era monge em formação, já usava tonsura e hábito, o que o fez ser muito bem recebido. Também visitou Tracunhaém, outro importante polo de arte cerâmica de Pernambuco.

Na formação para monge, dedicou-se a estudar filosofia, o que certamente impactou sua forma de pensar e fazer arte. Sua educação católica – que vem desde a infância e passa por sua formação enquanto monge – marca fortemente sua forma de trabalhar. Dizem que Tiago, por mais que tenha deixado o mosteiro, ainda vive como monge: sozinho, trabalha e ora, ressoando o lema beneditino “ora et labora”.

A partir da relação com diferentes atores dos circuitos das artes, Tiago Amorim construiu seu lugar como artista. Fundou movimentos artísticos e projetos e tornou-se uma figura de referência em Pernambuco. Teve contato com o Teatro popular do Nordeste e com artistas plásticos. Frequentou curso livre da Escola de Belas Artes, mas construiu seus conhecimentos sobre arte na prática, aprendendo diretamente com os artistas.

Seu ateliê ficou, por um tempo na década de 1970, no Alto da Sé de Olinda. Seu ateliê foi um espaço de acolhimento para artistas de referência da música nordestina com projeção nacional, como Gilberto Gil, Alceu Valença, Caetano Veloso, Fagner, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Naná Vasconcelos entre tantos outros.

Ocupou cargos públicos como o de Diretor de Cultura da Fundação de Cultura Turismo e Esportes de Olinda em 1991 e participou ativamente de inúmeros seminários, encontros e jornadas relacionados à cultura. Entre 1996 e 1997 ocupa a diretoria de Cultura do Município de Tracunhaém e em 1997 retorna ao cargo de Diretor da Cultura da Secretaria de Patrimônio Cultural de Olinda. Com ampla circulação em meios artísticos e políticos, desde a década de 1970 atua junto a prefeituras e Secretarias de Governo na construção de políticas públicas de reconhecimento e fortalecimento para o setor do artesanato.

Tiago Amorim participou de inúmeras exposições individuais, coletivas, bienais, no Brasil e exterior. Suas pinturas estamparam capas de livros e discos. Recebeu muitos prêmios e homenagens.  No Carnaval de Olinda de 2013, foi um dos artistas homenageados. Desde as primeiras edições da Feira Nacional de Negócios do Artesanato – Fenearte, tem lugar garantido na Alameda dos Mestres.

Obra e processo criativo

Tiago Amorim é multiartista: trabalha com cerâmica, pintura em tela, gravura, entalhe em madeira, desenho e escreve poesias.

Suas obras em cerâmica têm como temática, principalmente, o corpo feminino e a natureza, como peixes, aves, cavalos e cajus. Em seu processo criativo, propõe a transformação de modelagens tradicionais: as formas das peças tradicionais ganham novos significados.

A partir de uma parceria com a arquiteta e designer Janete Costa, começou a usar jarros, moringas e vasos como ponto de partida para criar formas zoomorfas ou antropomorfas. Nesse processo, suas cumbucas em forma de peixe, por exemplo, têm origem em vasos partidos ao meio. O gargalo, mais estreito, transforma-se na cauda do peixe.

Muitas peças têm formas arredondadas e voluptuosas. O desenvolvimento desse estilo teve início ainda em sua formação, quando se dedicava a aprender com artesãos. Quando estava em Tracunhaém, observou o ceramista Mané Roque, um jarreiro, modelar jarras em grande quantidade. Em seu processo de produção, Mané Roque modelava metade de uma jarra e seguia para a próxima. Olhando através de uma fresta, Tiago notou que essas jarras pela metade, enfileiradas, eram coxas de mulheres, e que faltava o resto do corpo. Passou então a modelar corpos femininos tendo como ponto de partida a modificação das formas da jarra. Em algumas dessas peças criou formas compostas, adicionando a cabeça de um zebu, cavalo, falos…

Tiago Amorim é um atento observador da forma e demonstra especial interesse pelas formas mais simples. Uma gota se transforma pela interação: os “pelicanos de Tiago” são criados a partir da combinação de duas gotas, que unidas promovem um jogo de formas. Já seus atobás vêm do mesmo processo, surgindo a partir de uma experiência em Fernando de Noronha. Para Tiago, são aves dóceis, com diversidade de cor e posturas, que representam a fauna brasileira.

Tiago tem amplo conhecimento técnico sobre a produção cerâmica, aprendidos com artesãos de diferentes tradições e com o português Alberto Santos, que trabalhou na fábrica de Ricardo Brennand. Assim, passou a dominar as misturas de argila e outros minerais para produzir porcelanas, faianças, pirocerâmica e outros materiais cerâmicos. Também domina diferentes tipos de acabamento, como esmaltes e vitrificados.

Suas obras circulam com maestria por diferentes circuitos de arte, como a da arte popular, tendo como referência a cerâmica utilitária; a arte erudita, com suas discussões estéticas sobre a transformação das formas e a arte mais “pop”, da cultura de massas. 

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